27 de junho de 2011

Cadê o trem?

Por Cláudio Brito*
As pessoas que vivem à beira da linha do trensurb acompanhavam eufóricas as obras da extensão dos trilhos até Novo Hamburgo. Urbanização, ampliação de vias de acesso, renovação de cenário e valorização de propriedades vizinhas.

Calculou-se que, diariamente, serão mais de 30 mil novos usuários. Dependentes. Sim, hoje são 180 mil passageiros dependendo dos trens para chegarem ao trabalho e às universidades. Amontoam-se em vagões que não têm ar-condicionado e que agora tiveram capacidade “ampliada” pela retirada de alguns assentos.

Qualquer dia, ninguém mais senta e a direção da companhia fará festa para anunciar o conforto. Mas em poucos meses estarão funcionando as novas estações, modernas, bem instaladas e até bonitas em sua arquitetura. Só um detalhe foi esquecido: o trem.

Hoje são 25 trens de quatro vagões, indo e vindo a cada cinco minutos nos horários de pico e mais espaçadamente em horas e dias de menos demanda. Os mesmos trens que viajarão mais alguns quilômetros e recolherão os novos clientes.

Quem pensou em vencer as distâncias da Região Metropolitana no trem, esqueça de receber um tratamento civilizado.

Vai chegar antes do que o ônibus ou mesmo o carro particular permitiriam, pois as estradas estão congestionadas nas horas em que se começa ou termina a jornada de trabalho. A tarifa do trem é subsidiada e ainda aceitável. Terminam aí as vantagens do trem suburbano.

Não precisava ser o trem-bala dos japoneses, nem os eficientes, rápidos, limpos e confortáveis trens da Alemanha, mas os milhões de reais empregados no trensurb deveriam contemplar a aquisição de novas composições. É de pasmar a informação conformista distribuída pela direção da empresa.

Os novos trilhos não serão acompanhados de novos trens. Fala-se com pouco entusiasmo na compra de sete novos carros com seis vagões, o que atenderia melhor os novos passageiros.

Falta dinheiro, dizem. Seriam necessários R$ 400 milhões. Inacreditável que só se fale nisso agora que os trilhos estão esticados por quase 10 quilômetros inexplorados.

Chegarão a Novo Hamburgo os mesmos velhos e já acanhados trens de quatro vagões. Partirão lotados da nova estação e virão incomodando e irritando outros milhares de estudantes e trabalhadores até Porto Alegre. E para voltar? Trinta mil pessoas a mais nas estações Mercado, São Pedro, Farrapos e Anchieta.

Planejamento? Estratégias? Tudo esquecido, porque missão e finalidade estão jogadas em um canto qualquer de um gabinete onde se reúnem aqueles que decidem o destino de quem depende do trem.

Mandar que os trilhos avancem e nenhuma providência adotar para que venham mais trens só pode ser coisa de quem nunca usa o trem. Estarão engravatados e sorridentes na viagem inaugural da extensão, antecedidos por recepcionistas e seguranças. Viagem confortável por certo. Na manhã seguinte, a realidade do trem superlotado.

Quando o verão chegar, então, uma sauna ambulante pelos trilhos da ineficiência. Novos trens, talvez, daqui a mais de três anos, se resolverem comprá-los, o que ainda não fizeram.

*Jornalista do jornal Zero Hora

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